Thursday, June 25, 2009

San Francisco...


Ai, ai San Francisco... aquela que não se quer deixar, mesmo antes de chegar.
Lembro a primeira vez que visitei San Francisco... um trânsito caótico, arquitetura deslumbrante, mendigos com as plaquinhas de papelão pedindo dinheiro enquanto Ferraris e Lambourguinis procuravam estacionamento em frente aos cafés desejando Cappuccinos.
Das mais bizarras criaturas das ruas de Fisherman's Wharf às mais elegantes na Union Square, dos produtos falsificados da China Town às delícias culinárias da Little Italy, das famosas obras de arte do Museu de Arte Moderna e de Young aos "clubes para adultos" da Market Street...
San Francisco da Golden Gate, de Alcatraz, das mais medonhas ladeiras e dos mais deliciosos prazeres... San Francisco guarda um pouquinho de cada mundo e agrada a todos os gostos. Não tem como não se apaixonar!
Ai, ai San Francisco....
* Foto do celular - Restaurante na cobertura do Bank of America, Union Square, San Francisco

Monday, June 22, 2009

The island (Victoria Hislop)


"A ilha de Spinalonga, fora da costa norte de Creta, foi a principal colônia para leprosos da Grécia de 1903 até 1957."

Alexis, uma jovem inglesa de 25 anos, formada em História Natural, decide viajar para a Grécia com o namorado Ed. Mais do que turismo, Lexis deseja preencher as lacunas em sua vida sobre seus ancestrais e ter idéia sobre que decisões em seu namoro "mais ou menos" com Ed. Sente que sua mãe, Sofia, esconde fatos de seu passado na Grécia. Quem são seus avós? Teria parentes? Porque todo esse silêncio sobre o passado? Porque as perguntas feitas quando criança tiveram curtas e monossilábicas respostas?

Uma antiga foto em preto e branco de um casal... vestidos de noivos, na cabeceira da cama de Sofia é o único registro familiar. "São meus tios Maria e Nikolaos, já estão mortos" - é tudo que Lexis sabe.

Ao saber sobre a viagem e após o choque da notícia de que Lexis deseja visitar sua cidade natal - Plaka - Sofia escreve uma carta e entrega a Lexis endereçada a Fotini Davaras.

Ao chegar em Plaka, uma ilha não muito distante chama atenção de Alexis, curiosa, logo consegue alguém para atravessá-la... quando menos imagina 5 horas se passaram desde seu desembarque. Percebe que, apesar de abandonada, a ilha tinha um certo encanto, seu antigos habitantes não pareciam viver infelizes ali. Retorna a Plaka e procura por Fotini.

É Fotini a narradora da história da família Petrakis... história essa que começa em 1939.

Eleni e Georgis Petrakis:

Eleni foi uma amável professora, apaixonada por sua profissão - adorada pelos moradores de Plaka e por seus alunos, tratava-os como filhos - casou com Georgis, um pescador, tiveram duas filhas Anna e Maria.

Anna, a mais velha, petulante, nunca disposta a ajudar, ambiciosa mas de beleza requintada, sonha em deixar a pobre cidade de Plaka.
Maria, o oposto de Anna, sempre doce e atenciosa para com a família.

Em 1939, Eleni descobre uma mancha branca em sua perna, reune todos os seus queridos alunos e descobre que um deles, Dimitri, é portador da Lepra - os pais há algum tempo tentavam esconder a doença por temer o isolamento do filho em Spinalonga.

A lepra (hanseníase ou mal de Hansen), é uma doença infecciosa causada pelo bacilo Mycobacterium leprae que afeta os nervos e a pele e que provoca danos severos. Desde que a escrita existe, tem-se registro de como a lepra representou uma ameaça, e os leprosos foram isolados da sociedade.

Na Grécia, aqueles que contraíam a doença eram enviados para ilha Spinalonga - totalmente excluídos da sociedade, em poucos anos o número de habitantes na ilha chegou aos 200 mil. Georgis Petrakis era o responsável pelo transporte de passageiros e mantimentos para Spinalonga - um meio de aumentar a renda, fora que não tinha concorrência porque ninguém em Plaka desejava chegar perto da ilha por medo de contaminação.

Foi Georgis quem transportou sua esposa Eleni e Dimitri, uma separação dura e cruel.
Eleni jamais dexara a ilha, aos poucos foi adaptando a sua nova vida e descobriu que Spinalonga não era como tinha imaginado. Os moradores, apesar de doentes e excluídos, tentavam levar uma vida normal.

Petros Kontomaris era o líder de Spinalonga e como tal voltou seus esforços para que a ilha tivesse quase tudo que uma cidade poderia ter, farmácias, biblioteca, barzinhos, shoppings, hospital. Sobreviviam com a verba enviada pelo governo grego, a verba que mantinha o comércio local. Conseguiu também a visita de um médico 3 vezes por semana - Christos Lapakis - de tremenda ajuda para aliviar o sofrimento e a dor daqueles no estágio mais avançado da doença e também ajudou a minimizar os sintomas dos recém-contaminados, uma vez que a cura ainda não havia sido descoberta.

Savina Angelopoulos foi grande amiga de Eleni, após sua partida tomou como responsabilidade ajudar na criação de Maria e Anna enquanto cria também os filhos Fotini, Antonis e Angelos.

Anos passam, Spinalonga recebe a visita do médico Nikolaos Kyritsis que busca pacientes para sua pesquisa para a cura da lepra. Infelizmente as pesquisas são interrompidas pela invasão da Alemanha nazista de Hittler.

A ilha testemunha a morte de gregos pela guerra, e de seus próprios habitantes pela devastadora doença - incluindo Eleni. Também testemunha o casamento de Anna com Andreas Vandoulakis, filho de um rico proprietário de terras em Elounda.

Anna agora tem tudo o que sempre sonhou, mas os anos de casamento não trazem um filho, um herdeiro. Manoli, um primo de Andreas, que após anos viajando pelo mundo, gastando a herança deixada pelos pais, retorna com os bolsos vazios para trabalhar com Andreas, torna-se íntimo de Anna, que ainda tentando preservar seu casamento, aprensenta Manoli para a irmã Maria - Manoli vê em Maria o oposto de Anna - inocência, doçura, zelo pela família. Ficam noivos, para o desgosto de Anna que nutre sentimentos por Manoli, mas às vésperas do casamento Maria percebe uma mancha em seu pé.

Seu diagnóstico fica claro ao visitar o médico Nikolaos Kyritsis em Iraklion. Georgis, que anos atrás viu sua vida devastada pela lepra ao perder sua amada Eleni para Spinalonga, sofre mais uma vez ao transportar sua querida Maria... teria ela o mesmo destino de Eleni?

Nikolaos Kyritsis retorna a Spinalonga para continuar sua pesquisa, e consigo traz remédios para testes.

Com o casamento desfeito, Manoli volta sua atenção novamente para Anna. O romance é de conhecimento de todos os empregados de Andreas, incluindo Antonis - irmão de Fotini, melhor amiga de Maria. Após 10 anos de casada, Anna engravida, Andreas convida Manoli para ser padrinho de Sofia.

Fotini visita Maria durante as viagens de Georgis à ilha para levar mantimentos, e conta todos os acontecimentos para a amiga, incluindo o caso de Anna com Manoli. Maria também recebe visitas do Dr. Kyritsis, o médico que possivelmente pode trazer a cura para sua doença é o homem por quem está se apaixonando.

Em 1957, Georgis faz a travessia dos primeiros habitantes a deixar Spinalonga. A cura fora descoberta. Aos poucos a ilha esvazia, pespectivas de uma nova vida fora da ilha são vistas como desafio para uns, desespero para outros marcados não apenas fisicamente mas psicologicamente pela doença.

Os últimos a deixar a ilha, incluindo Maria, fazem uma festa em Plaka. É nessa noite que Andreas, após descobrir as traições da esposa, confronta-a enquanto dirigem para a festa. Ouve-se um tiro. Dr. Kyritsis e Dr. Lapakis fazem os primeiros-socorros e Maria reconhece a irmã. O primeiro dia de liberdade da filha Maria, é também o dia que Georgis perde Anna.

Kyritsis e Maria casam-se e após algum tempo decidem solicitar a guarda de Sofia do avó paterno Alexandros, extremamente debilitado e já em idade avançada, após a morte da esposa. Criam-na como filha, uma vez que não tiveram a sorte de terem seus próprios filhos. Sofia cresce e Maria percebe nela as mesmas características de Anna, uma rebeldia sem causa e uma personalidade intrigante e irritante. Ao completar 18 anos, Sofia decide fazer faculdade em Atenas e é aqui que ela descobre a verdade sobre seu passado.

Decide partir sem olhar para trás e jura a si mesma nunca mais voltar, mas tem vontade de conhecer aquele que pode ser seu pai. Em Atenas procura por Manoli em todos os lugares possíveis. Bate na porta de todos os Vandoulakis na cidade, sem sucesso.

Quando já na faculdade conhece Marcus Fielding, um estudante de intercâmbio inglês, vê nele a oportunidade de esquecer de vez seu passado. Vê Maria e Nikolaos pela última vez em seu casamento em Londres e a vergonha pelo passado da família é o motivo do seu silêncio.

The island - A ilha - é uma história totalmente comovente e envolvente. Como eu nunca leio o resumo antes, a história foi surpresa pra mim. Uma família marcada por tragédias mas que não nos deixa esquecer que o amor e a vida permanecem mesmo em meio as mais terríveis circunstâncias.

Amei as descrições do cenário e dos personagens, no final parece que fazemos parte da história e que vivemos juntos a triste saga da família Petrakis, é uma história triste, triste como a realidade de muitos que perdem seus entes queridos não só para a lepra mas para o câncer, para a Aids ou qualquer outra doença atual que ainda não se conhece cura e que nos deixa com aquela sensação de impotência e insignificância.

Victoria Hislop é escritora e jornalista em Kent, Inglaterra.

Wednesday, June 17, 2009

Dub FX

Como nem só de livros vivo eu, senti vontade de compartilhar esse vídeo com vocês!
O cantor, DJ, backing vocal, e tudo mais, chama Dub FX, é de Bristol na Inglaterra e como muitos cantores anônimos fazem hoje em dia, decidiu colocar seus vídeos no youtube... de um talento impressionante e a voz bem gostosa de ouvir (fora o fofo sotaque inglês que eu acho encantador!), eu aposto que em breve todos vão saber dele!


Thursday, June 11, 2009

No! I don't want to join a book club (Virginia Ironside)


Primeiras linhas:

''3 de outubro
Ok. Então é isso. Cinquenta anos atrasada mas, melhor tarde do que nunca. Um diário. Eu sei que não é 1º de janeiro, nem mesmo 1º de novembro, mas não tem tempo melhor que o presente.''

Marie Sharp é uma senhora inglesa, divorciada, ex professora de Artes, nada convencional, que adora uma bebidinha, de ''quase'' 60 anos que decide começar a relatar sua história em um diário. O diário na verdade começa quando ela completa 59... 59?? Mas ninguém vai acreditar que ela tem 59, provavelmente tá mentido a idade (vão pensar!), melhor logo arredondar para os 60!

De forma cômica, inteligente - beirando o intelectualismo, sem tabus, preconceito ou vergonha, Marie conta seu dia-a-dia - incluindo alguns amigos - suas aventuras, desamores, o adeus a amigos e conhecidos, preocupações e seus pensamentos mais profundos bem como suas confissões, visões do mundo que se transforma aos seus olhos, e sua percepção do mesmo aos 60.

"Eles dizem que franqueza tem algo a ver com as sinapses atrofiando nos lobos frontais enquanto se envelhece, mas eu acho que é só uma confiança ridícula que vem com a idade"

Desiste da vida sexual. É questionada pelos amigos sobre o que fará agora que pode desfrutar da pensão do governo e não precisa mais trabalhar... Ônibus de graça, meia no cinema, nos teatros, museus...

Aprender italiano?

"Porque alguém pensaria que eu quero aprender italiano? (...) Não, a melhor coisa quando se chega aos 60 é que eu não mais preciso sentir culpa por NÃO aprender italiano!''

Universidade Aberta?

"Não! Não! Mil vezes não! Nem a Universidade para Terceira idade! (...) Eu nunca mais quero APRENDER alguma coisa. Tô cheia de aprender."

Clube do livro??

"(...) o problema é: eu não quero participar de um clube do livro pra me manter jovem e estimulada. Eu não QUERO ser jovem e estumulada nunca mais."

A vida de Marie muda completamente após descobrir que será avó... cheia de preocupações, lembra de quando indesejadamente engravidou de Jack, ainda na adolescência... pensou em abortar, não parou de fumar, beber, ou mesmo usar drogas durante a gravidez e nada afetou a saúde da criança, detestou o filho após o nascimento - tendo depressão pós-parto, pensou no tanto que perdeu, das festas que poderia ter ido, toda a badalação deixada de lado por causa de Jack, odiava ouvir seus choros e gemidos.
Quando Gene nasceu, percebeu que não amava o neto, mas aos poucos aquele serzinho foi tomando conta do seu tempo e pensamento. Gene é o amor da sua vida!

Alguns outros personagens:

- Jack e Chrissie: Jack é filho de Marie, casado com Chrissie, moram em uma outra cidade mas estão sempre em contato. É Jack que insiste para Marie entrar no mundo da tecnologia, comprando computador, DVD, etc para a mãe e ensinando a usá-los.

- Penny: amiga e confidente, divorciada, desesperada por um namorado, não entende o porque de Marie desistir de SEXO só porque chegou as 60. Começa a busca pelo par ideal pela internet, onde conhece (entre tantos outros) Gavin, um hippie de 30 anos, dono de uma loja de cristais em Glastonbury. Ao dizer a Marie que passarão a noite juntos na próxima sexta, mantêm um dos diálogos mais hilários do livro.

"(...) lembrando da última vez que fiz sexo. Depois da menopausa a vagina fica completamente seca e miserável e fazer sexo é como ter alguém esfregando uma lixa dentro de você.'' (pag.103)

Marie oferece KY Gel para Penny, guardado há anos e anos numa gaveta secreta onde Marie esconde desde venenos à demais remédios vencidos (em caso de querer cometer suicídio... você nunca sabe quando pode precisar!)

Logicamente, após a noite de sexo, Gavin desaparece e deixa Penny com uma cistite que dura meses.

- Hughie e James: um casal gay, amigos confidentes e de bebedeira de Marie. São responsáveis por diálogos cultos e cheios de ironia. Hughie um fumante compulsivo, descobre quase no final do livro que tem câncer no pulmão após anos evitando ir ao médico... morre pouco tempo depois do diagnóstico, não sem antes preparar seu próprio velório, tomar todo o vinho que tem direito e deixar meio caminho andado para Marie e Archie.

"Como disse Bob Hope, eu acho: Aos vinte nos preocupamos com o que os outros pensam de nós, aos quarenta não nos importamos com o que pensam, e aos sessenta descobrimos que eles nunca nem pensaram na gente.'' - Hughie (pag. 138)

- Archie: amigo de colégio e por quem um dia Marie foi completamente apaixonada (de escrever em páginas e páginas de seus cadernos - EU AMO ARCHIE! EU AMO ARCHIE!), sempre mativeram contato e agora que Phillipa, sua esposa, faleceu, Marie e Archie se aproximam com a ajuda de Hughie.

- Michelle: uma jovem francesa, filha de um casal de amigos, vem para a Inglaterra para estudar inglês e hospeda-se na casa de Marie. O que estava previsto para ser uma pequena estadia, acaba virando uma temporada e Marie testemunha os acontecimentos da vida de Michelle... sexo, drogas e poesia.

Com toda certeza Marie não é o retrato que todos têm de uma senhora de 60 anos! De uma sabedoria encantadora e um grande coração, Marie prende a atenção do leitor que vive com ela alegrias e pesares, mostrando que sentimentos, sejam eles quais forem, não têm restrição de idade, classe ou opção sexual.

Marie prova, com orgulho e bom humor, que a vida também pode começar aos 60, 70, 80....

Thursday, June 4, 2009

The book of laughter and forgetting (Milan Kundera)

Esse é o segundo livro que leio do Milan Kundera, o primeiro - The unbearable lightness of being - A insuportável leveza do ser - marcou a minha vida com aquela personagem adorável e sofrida, que carregava com orgulho Ana Karenina embaixo dos braços por onde quer que fosse. Ainda não comentei sobre esse aqui, não sei o porque, mas o farei em breve.

The book of laugher and forgetting - O livro da risada e esquecimento - relata fatos e histórias ocorridos no período da repressão comunista e a invasão Russa em Praga, capital da República Tcheca, começando em 1948.

O interessante é que Kundera mistura histórias fictícias com realidade, a sua realidade durante o período sombrio em que jornalistas, escritores, professores universitários, filósofos, poetas e demais cidadãos que não concordassem com o sistema comunista, eram perseguidos, presos e muitas vezes mortos, ou viam-se obrigados a abandonar o país, buscando exílio em países vizinhos.

Sendo um deles, Kundera perde o privilégio de trabalhar e tendo conhecimento de que os invasores russos proibiram qualquer um de o empregar, começa a escrever uma coluna astrólogica (rs) semanal numa revista de grande circulação, usando o pseudônimo de "importante físico nuclear"... tudo isso à pedido de R. (uma jovem tímida, delicada e inteligente, editora da revista).

''A única parte divertida disso era a minha existência, a existência de um homem apagado da história, da referência literária de livros, e até da lista telefônica, um cadáver trazido de volta à vida na incrível reincarnação de um pregador fazendo sermão a milhões de jovens socialistas nas suas grande verdades astrológicas''

Durante o período em que escreveu a coluna Kundera recebeu o pedido para fazer o mapa astral de um oficial do alto escalão comunista (secretamente, claro!). Não durou muito tempo, R. foi pressionada pelo sistema para revelar a identidade do físico nuclear. Temendo pela vida dos seus amigos e principalmente de R., Kundera abandona Praga a caminho de Paris.

As histórias são as mais variadas possíveis... a história de Gottwald, um líder da revolução que havia sido morto, junto com os seus... e dele só restava a boina.

A história de Mirek que um dia fora líder e agora via-se seguido onde quer que fosse, durante muitos anos foi amante da feia e velha Zdena que agora derramava lágrimas por Masturbov.

Marketa e Karel recebem a visita da mãe de Karel. Marketa que nunca gostara da sogra por ter sido destratada enquanto morava com ela, vê-se obrigada a recebê-la em sua casa após tantos anos. A visita coincide com uma das visitas da amiga (apresentada como prima) Eva, que visita de tempos e tempos para apimentar a relação de Marketa e Karel - Eva na verdade é amante de Karel, que fez um esquema para que a amante e a esposa se conhecessem, virassem amigas e tivessem ''suas festinhas'' para melhorar a relação - sexo grupal.

As duas estudantes americanas em Praga, Michelle e Gabrielle, tem como tarefa de casa analisar e apresentar perante a classe o texto de Ionesco - Rhinoceros. Equivocadas nas suas análises, vêem seus colegas de classe às gargalhadas no dia da apresentação. Humilhadas e aos prantos, percebem a professora - Madame Rapahel - também às gargalhadas por ter confundido os prantos e o movimento do corpo das alunas como a dança que ela sempre quis dançar e nunca teve coragem. A história termina com a professora e as alunas em círculo dançando e gargalhando.

''Um homem possesso pela paz jamais para de sorrir"

O único personagem que Kundera realmente diz criar é Tamina - "Bem, dessa vez, só para deixar claro, minha heroína pertence a mim e somente a mim (...) Eu a imagino alta e bonita, 33 anos, e nascida em Praga." (pag. 79)

Tamina tem uma história sofrida, abandonou Praga com o marido Mirek após a invasão, deixando para trás não só a família, as lembranças, mas também da sua vida, percorreram várias cidades Européias até a morte de Mirek, trabalha como garçonete num café numa cidadezinha provinciana no oeste europeu. Deposita suas esperanças de ter de volta as cartas escritas pelo marido e deixadas em Praga em Bibi e Hugo, o que não acontece. Seu irmão, com quem não fala a anos é responsável pelo resgate das cartas da casa da sogra, agora nas mãos de seu pai, informada que as cartas foram lidas. É como se tivessem invadido sua vida, devastada jura nunca mais ver o pai e o irmão. Ao tentar fugir para uma vida sem dores, vê-se numa ilha cercada por crianças, por ser o único adulto na ilha, é vítima da curiosidade sexual das crianças, que a abusam e dão prazer. Morre ao tentar fugir da ilha.

Kundera tem essa forte característica de ser extremamente sexual, o tema é abordado abertamente e sem pudores ou tabus em várias histórias, incluindo a de Jan, que ao saber que deixará o país, decide participar da festa na casa Bárbara, conhecida por promover noites de orgias. Jan quer cruzar a fronteira, não apenas a fronteira que separa dois países, mas a fronteira da liberdade sexual, a fronteira que libera seus desejos mais secretos, dos desejos que ele não mais quer controlar, reprimir.

Essas e outras histórias ilustam o livro de Kundera, é difícil falar de todas elas mas o que é interessante no livro é a mistura de ficção e realidade, de prazer e sofrimento, comicidade e aquela sensação de ridículo das situações da vida. Momentos que nos trazem alegrias, outros em que "rimos para não chorar", e tantos outros que são bem melhores longe da nossa memória.

Se você não consegue separar seus princípios, sejam religiosos, éticos, morais, etc., quando ler um livro, é melhor nem começar a ler porque alguns podem se chocar com o estilo de Kundera mas para aqueles que lêem por prazer... Kundera é uma surpresa, provocante, ardente sem esquecer das dores, desamores e desastres de uma guerra.

"Romances gráficos são frutos da ilusão humana que nos fazem entender o ser humano"

(Milan Kundera)